Quais as causas dos cálculos renais? Essa é uma pergunta feita frequentemente no consultório - principalmente pelos pacientes que recorrentemente tem cálculos e cólicas.
Em resumo, existem fatores genéticos e fatores relacionados aos nossos hábitos que influenciam a formação das pedras. Por hora, não conseguiremos atuar na genética que nos influencia e, portanto, nos resta cuidar de nossos hábitos, sobretudo alimentares.
Quais os fatores mais comuns da formação das pedras nos rins?
Inegavelmente a ingestão hídrica é senso comum como fator que influencia o aparecimento de cálculos renais. Ela corresponde, assim, por 10-50% da formação de pedras. Decerto o cálcio também é bem famoso. A hipercalciúria, ou seja, o aumento da concentração de cálcio na urina, pode responder, dessa forma, por 28-53% das causas dos cálculos.
Outros fatores importantes, porém, menos conhecidos, são: hiperoxalúria (2-15%), hiperuricosúria (10-40%), hipocitratúria (10%). Outras causas metabólicas menos impactantes são: acidose tubular renal, hipomagnesiúria, cistinúria e, enfim, cálculos relacionados com infecção.
Por último, existem fatores anatômicos, como a obstrução da JUP, o rim em ferradura, os divertículos calicinais e o rim esponjoso medular.
Ingestão de líquidos
Ingerir líquidos, sobretudo água, é altamente impactante na formação de cálculos. O simples fato do urologista orientar seus pacientes a ingerir líquidos, diminuiu de fato a recorrência de cálculos renais de 27% para 12%.
Como regra geral deve-se ingerir, em princípio, 2 litros de líquidos por dia. Lembre-se, entretanto, que em meses quentes nós transpiramos mais, assim como quando praticamos atividade física.
Nessas situações, devemos ingerir mais líquidos pois perdemos mais na transpiração. Em princípio, metade desses líquidos deve ser água. O restante, por fim, pode ser de outros líquidos como sucos e chás.
Apesar de haver pesquisas, a dureza da água é assunto controverso. Água com gás e cítricos, por outro lado, podem oferecer benefícios.
O cálcio
Antes de mais nada, gostaria de ressaltar: tratar da influência do cálcio na formação dos cálculos, não é algo tão simples. O raciocínio não é cartesiano - tendo em vista as várias maneiras do nosso organismo regular a concentração do cálcio.
Em primeiro lugar, apenas 30 a 40% do cálcio que nós ingerimos é absorvido. Boa parte é combinada ao oxalato no intestino e é perdida. A absorção ocorre sobretudo no intestino delgado e é estimulada pela vitamina D. A Paratormônio ou PTH, por sua vez, estimula a produção de vitamina D, assim como aumenta a reabsorção de cálcio nos rins e nos ossos. Note que essa reabsorção de cálcio nos rins, diminui o cálcio urinário.
Hipercalciúria
A hipercalciúria, ou seja, o aumento de cálcio na urina, pode ocorrer devido a 3 diferentes problemas:
Absortiva (20-40%)
Há uma elevada absorção de cálcio no intestino, e isso inibe o PTH. Assim, há um aumento da excreção de cálcio na urina. O cálcio no sangue permanece normal. Na hipercalciúria absortiva tipo I, a restrição de cálcio na alimentação (menos de 400mg/dia) não altera a eliminação de cálcio na urina. Na hipercalciúria absortiva tipo II, a diminuição do cálcio na alimentação, diminui a excreção de cálcio na urina.
Ainda iremos falar sobre as recomendações alimentares para evitar pedras nos rins, mas note que apenas na hipercalciúria absortiva tipo II, há benefício na restrição de cálcio. Por isso, de maneira geral, a restrição de cálcio não é uma medida amplamente utilizada.
Renal (5-8%)
Há uma eliminação exagerada de cálcio, pelos rins, na urina. Assim, esta perda aumenta os níveis de PTH e, portanto, há absorção maior de cálcio no intestino e nos ossos. A vitamina D também eleva seus níveis. Por fim, os níveis de cálcio no sangue ficam normais.
Reabsortiva (3-5%)
Por certo o hiperparatireoidismo primário é a doença mais comum, ou seja, há o aumento do paratormônio. Por consequência o cálcio no sangue aumenta e, embora em um primeiro momento o PTH diminua a excreção de cálcio na urina, posteriormente o cálcio no sangue fica tão alto, que precisa ser eliminado na urina em grandes quantidades.
Por último não podemos nos esquecer de causas raras como neoplasias, sarcoidose, granulomatoses, tireotoxicose, toxicidade por vitamina D e hipercalcemia induzida por corticóides.
Líquidos, Cálcio e o que mais?
Certamente foi bastante informação, e mesmo assim ainda há muito o que se falar para responder à pergunta: Quais as causas dos cálculos renais?
Em resumo, vimos a importância da ingesta adequada de líquidos e como o cálcio pode aumentar sua concentração em nossa urina. Por certo, aprendemos que a ingestão de cálcio na alimentação pouco influencia na formação de pedras. Assim, o problema pode estar no intestino, contudo, não necessariamente impactado pela quantidade de cálcio que comemos, nos rins ou nas paratireóides, as glândulas que secretam o PTH.
Post original no Blog do Dr. Tiago Aguiar.
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